Nós nunca seríamos uma casal

07:12:00

Daqueles que namoram num balanço. Ou embaixo de uma árvore bonita. Daquele namoro de criança. Puro. Inocente. Sem segundas e terceiras intenções. Do tipo que vai a praças tomar sorvete no fim da tarde. Do que andam de mãos dadas. Que vão ao cinema e assistem até após o crédito. Dos que dividem o milk shake, ou a pipoca. Que vão almoçar na casa do outro aos domingos. Que a gente compra presentes sem motivo algum. E sonha a noite. Que acorda e dorme pensando. Que troca carinho. Amor. Mas nosso lance era bem além disso. Nós não tínhamos isso de andar juntos. Ser vistos juntos. Era tudo debaixo dos panos. No segredo. Escondido. Não rolava carinho. Afeto. A gente estava junto pelo sexo. Pelo calor do momento. Pelo corpo. Pelo prazer. Nosso propósito nunca foi cuidar um do outro, se doar um pelo outro. Nunca abrimos mão de nada pelo outro. Não convivemos juntos para se conhecer de verdade. Era só o bom e velho sexo. Nós nunca soubemos mais do outro. Também nunca procuramos saber. A gente nunca dividiu um chocolate. A gente nunca teve uma música só nossa. Nunca vimos um filme inteiro no cinema. Não trocamos cartas. Nem o telefone no outro dia. Muito menos um "bom dia" na manhã seguinte. Tudo era planejado pro prazer marcado no final de semana. A entrega do corpo, não a entrega da alma. O prazer com tempo contado. Sem limite. Sem pudor. Sem vergonha. Nos esquecíamos, e só nos lembrava quando dava vontade. A vontade do corpo. Se sentíamos saudade. "Saudade". Não saudade de afeto, carinho, atenção. Mas a saudade carnal.  A gente não soube se amar de verdade. E talvez nunca vamos saber. Nunca seremos um casal. Porque com a gente não acontece amor. Acontece foda. Transa. Coito. Amor não. Amor não existe pra nós dois. Amor não existe em nós dois. Amor não tá no nosso dicionário. E provavelmente nunca vai estar.

Aliás, se conhecer o amor, me apresenta!


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